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sábado, 28 de novembro de 2009

I

...nem de longe há sinal de esperança e nada há além dessas dunas... meu Deus, olha onde vim parar! Dias e dias caminhando por esse deserto que não se acaba, sem rumo, em fuga de uma luta perdida, no desespero para manter-me em vida... morrerei aqui ? O sol, calor, tão impiedoso, tão imparcial, ponto minha mente em literal ebulição. Uma culpa enorme torna a caminhada ainda mais dolorosa, põe ao fardo em meus lombos um peso ainda mais monstruoso.
Eis à frente uma duna enorme, meu Pai eterno! A areia quente já acabou com meus pés e a palma de minha mãos. Agora, rastejo como um verme, na ânsia de encontrar um refúgio para este corpo afadigado. A subida é assaz íngreme, a areia ferve e, como um cão moribundo, rastejo a quatro pés na tentativa de transpô-la... como ainda vivo? há dias sem água ou um bocado de pão seco para aliviar-me, ainda existe vida em mim... meu Deus, esse deserto, essa duna, estou longe da metade da subida e já quero desistir. Minhas mãos já não aguentam mais, meus braços querem morrer, minha respiração é como o maior esforço de um homem.
Parei. Olhei para o cume da duna, se é que posso assim chamá-lo. Acima, o céu de um azul que só o Supremo poderia inventar. "Que belo", pensei. Era a visão mais linda que eu havia contemplado em tanto tempo de batalhas, vergonhas, mortes e fugas. E que contraste, um cenário tão lindo e poderoso ser tão mortífero e tenebroso. "Sorriria se tivesse forças". Um longo suspiro interrompeu o pensamento, pude sentir todo o volume daquele ar quente e seco adentrando meus pulmões. "Ainda vai demorar para entardecer. E não há nenhuma nuvem no céu. Nem sinal de chuva 'que me refresque a língua' e me traga um pouco mais de vida".
"Não estou nem na metade desta duna... o que deve ter após ela? mais deserto? minha morte, meu fim, selando meu sepultamento sob terrível aridez... nem de longe há sinal de esperança. Nem de longe...