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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

II


"AVANCEM, VAMOS!"
"SENHOR, NÃO É POSSÍVEL, OS HOMENS ESTÃO EXAUSTOS, RECUE!"
"SOU EU QUEM DOU AS ORDENS POR AQUI. AVANCEM!!!"
"PELO AMOR DE DEUS, VÃO MORRER TODOS..."
"ENTÃO MORREREMOS TODOS. NÃO RETROCEDA. MORRA, MAS NÃO RETROCEDA."

... chega a ser engraçado lembrar-me dessas palavras. Quem sabe se o capitão ouvisse o conselho de seu sargento, muitos estariam vivos ainda... sendo mais claro (ou não), mais de mim estaria vivo ainda. Não éramos os melhores, mas tínhamos nossas glórias. Mas a última luta foi avassaladora. As situações totalmente distintas, tudo diferente. Aqui, agora, retroceder é o mesmo que morrer. Lá era uma chance de vida. Não há honra, glória ou vergonha maior do que a própria vida. Só que aqui não há como fugir. É pior do que na guerra, é mais complicado e mais dolorido que uma condenação. Um retrocesso significa com certeza o meu fim... mas eu não tenho nem idéia do meu destino se eu continuar, parece que vou acabar do mesmo jeito avançando ou não. Nem sei por que motivo ainda continuo a rastejar-me como uma lesma frenética nesse deserto incandescente. "Meu Deus, eu parei na metade da duna. Há dor em todo o meu corpo e uma ferida na alma que faz a morte parecer um doce conforto. Por que ainda estou vivo e impulsionado a continuar se não vou chegar aonde devo? Não deve ter mais nada além de mais deserto do que depois dessa areia monstruosa."
Já tive minha força, ah, já sim. Ora, o que estou dizendo, minhas recordações não vão me salvar. Estou à beira da morte, da loucura, de um colapso total. O motivo de eu estar aqui eu mesmo cavei, eu mesmo arquitetei minha destruição. Estou fugindo de mim mesmo, buscando, pelo menos, uma morte menos indigna que meu histórico. "Ai, Deus... nem de longe eu consigo enxergar esperança... nem de longe."

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