
...quando chego à metade da duna, sinto um certo alívio, mas ciente de que a parte mais complicada da subida ainda está por vir. Venta muito forte, e, meus olhos agora estão cheios de areia e suor, o que torna a escalada ainda mais difícil. " Aiai, como venta!" Não há como subir com a postura ereta, tanto pelo extremo cansaço quanto pela dificuldade da subida. Um passo em falso e a areia parece ceder: "Deus, não é possível, não posso cair daqui. Não agora, não. Não faça isso comigo, meu Deus!"
Para o meu horror eu começo a deslizar incontrolavelmente e, consequentemente, rolar duna abaixo, numa queda dolorosa, rápida, invisível. Senti meu corpo sendo liquidificado com a queda, junto com ele meus pensamentos e sentimentos. Tudo escureceu e eu só conseguia sentir um desespero indescritível, na verdade, a única prova para mim mesmo de que eu ainda continuava vivo. Acabei a queda de barriga pra cima. Não conseguia abrir os olhos e sentia minha carne "fritar" naquela areia infernal. Uma visão...
"LEVANTE DAÍ, SOLDADO !!! CAÍDO AÍ VOCÊ NÃO VENCE BATALHAS!
SUA MAMÃE NÃO VAI OUVIR SEU CHORAMINGO AGORA, SEU MONTE DE ESTRUME!!!
ERGA ESSA PORCARIA QUE VOCÊ CHAMA DE CORPO E CONTINUE! ANDE LOGO!!!"
Parecia que algo havia me puxado pelo peito e me feito sentar. Abaixei a cabeça, tentei reorganizar minhas idéias. Recordei-me que havia despencado de uma sofrida subida de mais uma duna complicada. Abri os olhos, como foi difícil enfrentar aquela claridade e calor todo. Levantei-me e contemplei a duna. Estava no sopé. "Cristo, amado... vou subir tudo de novo!"
Comecei novamente a subida, lentamente, passo a passo, muita atenção, muito cuidado, sem desviar o pensamento, sem deixar a culpa novamente tomar conta de mim, sem tentar lembrar-me do passado ou do motivo de eu estar ali. Só conseguia ouvir a voz enfurecida do capitão me mandando continuar. Eu sabia que não podia parar. Eu não imaginava o que havia depois daquela duna, provavelmente mais deserto, mas eu não podia parar.
O sol continua, mas enfraquecido com o cair da tarde. " Vai anoitecer e não vou transpor isso.", penso desolado. A ventania vai e volta, como que zombando de meus esforços, brincando com minhas fraquezas e, de vez em quando, seduzindo-me com um breve alívio do calor, sempre jogando um punhado de areia em meu rosto, como me esbofeteando. Continuei a subir. Mesmo sem enxergar esperança, tinha que continuar a subir. Com ou sem sol ou vento, caindo de novo ou não, vendo a verdade ou cego. Eu tinha que continuar. A queda tivera um efeito inverso." Deus... eu vou morrer mesmo... por que parar ?"